O Cônego Mathias Freire vivia de teimosices. Dentre essas, esse padre nunca deu conselho melhor: “criemos a nossa academia de letras”. Acordou cedo para celebrar sua Missa das seis e logo foi à casa de Coriolano de Medeiros para reunir outros intelectuais e escritores que os dois tinham em vista para fundar a Academia Paraibana de Letras que, já nascida egrégia em 14 de setembro de 1941, tomou corpo e alma até os dias de hoje, crescendo em todos os sentidos. E quanto mais cresce mais é desejada, disputada, feita boa moça, bonita e inteligente. Assim, mesmo jovem , tornou-se mãe, domus mater de outras academias, às quais empresta ideias, estatuto e modus vivendi . Seus fundadores, dez pilastras de boa estirpe intelectual, os quais figuram na Galeria dos Fundadores; multiplicaram-se em 40, escolhendo excelsos patronos para o mesmo número de cadeiras, tal como se organizou a Academia Francesa que serviu de protótipo à Academia Brasileira de Letras. Por sua vez, a nossa APL se fez de exemplo a outras congêneres na Paraíba, de João Pessoa a Cajazeiras.
Nesse próximo dia 14 de setembro, a nossa renomada Academia Paraibana de Letras completa 79 anos de vigor, sob o lema Decus et Opus, traduzido por “estética e trabalho”, quando também se encerra o oitavo ano da minha gestão, enquanto Presidente, nos 4 mandatos, à frente da APL, que aumentou momentos de intenso e sério trabalho e constante circunstância na minha vida. Em 15 de outubro de 2007, Dia do Professor, no Santa Roza, ingressei nessa invejável instituição, para ocupar a cadeira 33, então pertencente ao saudoso amigo, mestre e filósofo, o cronista e escritor, Francisco Pereira Nóbrega, cujo patrono é Castro Pinto; empossava-me o Presidente Juarez Farias. Cinco anos depois, novamente por insistência do Professor José Jackson Carvalho, filósofo e Presidente da Academia Paraibana de Filosofia, da qual sou membro, movimentou-se no sentido para eu assumisse a Presidência da APL, missão que recebi das mãos do cronista Gonzaga Rodrigues. Era 14 de setembro de 2012. Em virtude do dinamismo das nossas gestões, modéstia à parte, fui reconduzido a mais três mandatos, perfazendo assim 8 anos consagrados de trabalho à essa excelsa entidade. Por excesso de responsabilidades e compromissos, junto à Secretaria de Estado da Cultura, entrego a Presidência da APL a uma plêiade de acadêmicos que trabalharam comigo, em algumas das gestões de 2012 a 2020. Assim, sinto-me corresponsável para que a Nova Gestão assuma os destinos da APL, mantendo nossa Academia pujante e amada Confraria. Pois, creio nas palavras de Voltaire: “O presente está grávido do futuro”. Agradeço aos acadêmicos que colaboraram comigo nesse memorável trajeto, especialmente a funcionária Marilene, Josimar e Tânia Maria da Silva Enedino, Secretária.
A partir de então, obras visíveis e iniciativas de eventos culturais testemunharão que fui fiel ao lema “estética e trabalho” e ao juramento prestado nas minhas 4 posses, “combatendo o bom combate” e com muita fé na capacidade de superação dos constantes obstáculos. Seria ingrato não reconhecer o apoio da Energisa, na pessoa do Dr. Marcelo, para se erigir o monumento em bronze do poeta maior Augusto dos Anjos, na Academia; agradecer as celebrações de convênio ao então Governo de Ricardo Coutinho, com que realizamos modificações, reformas, e recuperações naquelas velhas casas. Também ser grato ao Governador João Azevêdo que, além dos convênios, doou-nos as casas patrimoniais, atrás da APL, para se construir a extensão da Academia. Hoje, entregamos a Academia restaurada, fascinante aos candidatos à imortalidade, atraente, por ano, aos mais de dez mil turistas. Orgulho-me desse trajeto percorrido, ao trabalhar com amor e dedicação à Confraria, à Academia. Confio no que leio e releio em Friedrich Nietzsche: “O que é feito por amor acontece além do bem e do mal”.
Damião Ramos Cavalcanti