Academia Paraibana de Letras

 

          A pedra não nasce porque não tem vida; se a pedra nascesse, daria vida a outras vidas. Ela se constitui e se reconstitui de pó e casquilhas da poeira cósmica, sem moto próprio, ajudada pelo vento, voa desde as galáxias e tempos remotos; superior às precipitações, fragmenta-se, mas não morre, acumula-se em montanhas. Já na Terra, rola de ladeira abaixo aos pés das serras, espalha-se nas planícies ou nos rios. Parafraseando Heráclito, as águas do rio jamais lavam, duas vezes, a mesma pedra. As águas fazem a pedra bela, polida, redonda como os seixos, à semelhança das bolinhas de gude da nossa infância, tidos como gado, num curral de sabugos. E as meninas jogavam tais pedrinhas pra cima, aparando-as na mão, no jogo da bugalha, aqui chamado de “ossinho” e, culturalmente  na África, de “mathacozona”. Segundo referências lógicas  ou epistemológicas, numa definição circular, geralmente infantil, mas muito profunda: A pedra é uma pedra…
         
 Hildeberto é hildeberto, mas, ao contrário da pedra, nasceu, tem vida, cresce e movimenta-se. E quando desprende a força da sua criatividade, dá vida a outras vidas; verifique-se nas filhas Mariana, Carolina e, por extensão, na neta Lara. Assim como “o efeito é a extensão da causa”, as obras de Hildeberto são extensões dele mesmo; ama e cuida dos seus livros como se fossem partes de si mesmo. Confidencia-nos sua esposa Vera que sua biblioteca é o seu relicário. São mundos inseparáveis, livros e Hildeberto,  numa “única viagem”, num longo caminho, que sempre chamarão de imortalidade.
         
 Volto às pedras de Aroeiras, cidade por ele carinhosamente chamada de “Comarca das Pedras”, onde plantou árvores aroeiras, tornando-a também “Comarca de Hildeberto”. Ele, por analogia, é uma pedra: Uma das pedras angulares da Academia Paraibana de Letras e das universidades onde ensina. No mundo letrado, é uma das pedras filosofais da palavra, da linguagem, da literatura, da arte literária e, sobre esse sujeito, das suas explicações. Poeta, de potencial criatividade, procura não perder sua inteireza, a seguir o poeta filósofo Fernando Pessoa: “Sê inteiro em tudo que fazes”. Renomado por tais qualidades, constata-se que seu pai Hildeberto compreendeu a criança e, convencido por uma intuição profética, para seu orgulho e ouvida a mãe Dona Detinha, projetou-se no filho caçula, registrando-o e batizando-o com o nome de Hildeberto Barbosa Filho.

Damião Ramos Cavalcanti

 

 

 

 

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *