Academia Paraibana de Letras


          Chegar a Marte, longe planeta análogo à Terra, demanda sobretudo velocidade que ora traz seus bens, ora, seus males. Prefiro o movimento, a ação, a animação, a energia à inércia, praticando uma vida ativa e dinâmica. O contrário seria propício à preguiça, à inatividade, à paralisia, ao torpor, ao acúmulo de energia ou progressivamente ao seu fim: A morte. Contudo, é preciso escapar do açodado frisson do “time is money” e procurar compreensão e equilíbrio ao relativismo dos contrários, sabendo dosar a vida segundo a movimentação e a inércia. Trabalhar nos dá sobrevivência construtiva, mas escravizar-nos, sem descanso, em vez de  ganharmos tempo, sujeitar-nos-emos a perdê-lo para o resto da vida… Considere-se também que o bom e o mais perfeito são frutos de tudo no seu devido tempo.
          Estranho que se 
fabrique moto ou carro para correr além da necessária velocidade para chegarmos aonde vamos, industrializando-se excessos que provocam desastres e mortes. Se a lei, em placas ostensivas, exige que o automóvel não ultrapasse 120 km por hora, por que ou para que venderem carros que correm muito mais acima de 240 km? Irracionalidades… Irracional também seria, na minha idade, enfrentar a velocidade para ir a Marte e suportar impactos, catabis e buracos espaciais; só a duração dessa viagem me amedronta. Mesmo assim, estão vendendo excursão, sem retorno, a essas distâncias…
       
  Uma pressa coletiva ideologicamente ronda o mundo, nesse afã, os humanos andam se substituindo pela máquina; substituem pés, pernas, braços, boca, estômago, virilha e até a própria cabeça para lucrar comodismo e usufruir, ao mesmo tempo, o imiscível: Inércia e alterável velocidade. Também se substitui o coração: Amor, afeto, carinho, quando amizade requer dedicação e sua linguagem falando palavras de arte e poesia. Comunicações despretensiosas que não conjugam mais o verbo amar, com esmeros do sentimento, mínguam na velocidade da internet ou na linguagem da velocidade, escrevem-se palavras truncadas, abreviadas  ou minúsculos desenhos chamados de “emoji”. Estamos voltando aos símbolos da escrita rupestre, aos desenhos primitivos das cavernas, à linguagem troglodita ou, quem sabe, à morte da literatura.

Damião Ramos Cavalcanti

 

 

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