Academia Paraibana de Letras


A passagem de ano, neste 31 de dezembro, pode nos causar certa confusão, porque o último dia de 2017 é domingo, o festivo da semana; e, o primeiro de 2018, a segunda-feira, um dos dias úteis, de trabalho, levando Joca Taxista dizer que “tanto faz, tudo é mesma coisa”, repetindo a filosofia de que o tempo é um continuum, como se fosse um todo. O novo seria o pedaço da estrada que seu carro ainda não percorreu, mas o caminho é um só. Não o impressionam os passageiros vestidos de branco, informando-lhe o destino da festa, pagando-lhe a corrida para o Ano Novo.

Há fogos de artifício nos velhos ares, de repente, apagados pelos novos ventos, mas isso não contradiz serem os anos um mesmo tempo, “uma coisa só”: o novo não recomeça o velho, mas apenas lhe dá continuidade. O andarilho budista na interminável via, na samsara, e depois no ainsa, conta nos dedos oito vias, mas o caminho é um só, o à inatingível perfeição, à felicidade. Há quem já se ache, presunçosamente, perfeito. Mesmo quase assim, foi o tempo que melhorou ou ele, que melhorou no tempo? Percebam os de vida curta, média ou longa que o tempo é longevo, sem fim. E reflete o taxista: vão-se os passageiros, e o carro fica, não parando de rodar.

Mais do que do ano, os fins de semana servem para nos avisar metas que não foram ainda cumpridas; na próxima, poderão ser alcançadas. Então, festeja-se o fim ou o início? Os dois, o das metas alcançadas e o das a serem cumpridas, tudo numa só festa, num só tempo, misterioso, dando-nos a intuição da eternidade e a Mário Quintana, da poesia: “A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa./ Quando se vê, já é sexta-feira!/ Quando se vê, já é natal… / Quando se vê, já terminou o ano…/ Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida./ Quando se vê, passaram 50 anos!/ Agora é tarde demais para ser reprovado…”

Damião Ramos Cavalcanti

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