Desejando morrer como um pássaro, meu primo Aluizio Ramos fugiu da gaiola, largou o trânsito poluído da metrópole recifense e a vida de economista da Sudene, para plantar e colher na sua Fazenda Pássaro Carão , na Mata da Chica, um dos recantos verdes do Conde. Trabalhador, continuava dormir e acordar cedo, igual aos pássaros. Mal nascia o sol, partia para a labuta; roçava, todos os dias, as plantações de raízes e frutas nas suas terras, cantando versos, dos seus folhetos.
Desejava morrer como um pássaro, sem aviso, sem dor, sem bater asas, apenas esmorecendo onde estivesse. Foi quase assim, se não fosse a angústia de tantas notícias ruins, selecionadas com esmero para serem as piores, impactantes, ganhadoras da primeira página. Dessas como a do assassino que friamente matou o pai, a mãe, os filhos, a criança, cortando-os em pedaços, envelopando-os em saco plástico como se fosse diabólica mensagem a ser postada a um mundo já tão ofendido e sofrido.
Há anos, já tinha abolido televisor da sua casa: “Só noticia desgraças, coisas que atrapalham o sono…” Mas , a mulher Sandra lia jornais, e ele, leitor amante, não evitava o jornal do dia, deixado na rede do ventilado terraço da fazenda. Num desses domingos, às cinco da manhã, amanheceu entre as aves que estava alimentando com o milho que plantara. Sereno, mas roxo, o sangue não desceu da cabeça ao coração, não morreu como desejava. Os pássaros preservam, das penas à pele, as variadas cores do vivo colorido.
Certo dia, perguntou-me, se o mundo seria assim ruim e desastroso como os jornais o dizem; os jornalistas falsificariam a sociedade para chamar atenção e vender facilmente seus escritos? Triste, fiquei calado; com ou sem exageros, o mundo tem sido assim… Não precisa catar más notícias, isso há em abundância. Muitas já não espantam mais, tornaram-se triviais, comuns; sua desenfreada repetição dá à anormalidade “persona” da normalidade.
Damião Ramos Cavalcanti