Academia Paraibana de Letras

        No Museu, vejo crianças no colo da mãe; olhares inocentes em tinta e óleo; e como corressem mais do que minha imaginação, admiro pinturas de meninos jogando na rua, sem preocupações com o tempo e com o espaço; vêem somente a bola que, redonda, rola aonde se deu o chute. Lembro-me das bolas de meia que se movimentavam no tecido morto da meia furada; das bexigas de boi que, ovais, pulavam sem direção precisa, enganando o jogador, a trave ou ela própria fazendo o gol; ou das pequenas bolas de borracha em que o pé acertava com dificuldade, sendo pior para o goleiro agarrá-las. O Museu traz memórias nas pinturas, fotos e esculturas: Adultos conversam, indiferentes, sem olhar as belas jogadas, os criativos dribles, considerando apenas “jogo de criança”, sem as atrações do jogo de adulto…

        As coisas de criança valorizadas são aquelas em que ela imita o adulto, quando tias, tios dizem: “Parece gente como a gente”. É a criança vestida de adulto, lida no Emilio, de Jean Jacques Rousseau… Se a desvalorização dessas criaturas é demonstrável nas suas atividades lúdicas, imaginem como é junto às atividades de gente grande, onde impera e se cultiva autoritário adultocentrismo. Na natureza, o homem teoriza antropocentrismo; na sociedade, o adulto se centraliza em tudo, restando à criança apenas coisas de criança. Tal dominação exclui a criança da constituição social, o que se ultima nas injustiças, no mau trato ou no abandono.
        Passaram o Dia da Criança e exigências do presente como o regalo que a mídia prometeu. Sem carinho, crianças aguardam o “direito de comprar” brinquedos, até celulares. Adverte-nos Oscar Wilde: “As crianças começam por gostar dos pais; quando crescem, julgam-nos; às vezes, perdoam-lhes”.

 Damião Ramos Cavalcanti

 

 

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