Maxixe não é, aqui, a dança, desde 1870, inventada pelos cariocas, parecida com a habanera e com a polca que se misturaram com o tempero do ritmo africano, então admirado no dançarino popular chamado de Maxixe, requebrando os quadris, mais do que a mulata no morro, em passos rápidos pra frente e pra trás, como alegorias ora improvisadas , ora ensaiadas. A partir da metade do século XX, tal maxixe foi engolido pelo samba. A continuar, maxixe é o que, numa feijoada ou num cozido, separado ou não do quiabo, barato, substitui caríssimos comprimidos de zinco.
O maxixe também lembra o gostoso quiabo, frito ou cozinhado no feijão verde cuja baba alguns repugnam; com baba, sinto prazer de comê-lo, medicando-me com as vitaminas A, B, C, E e K, contendo os minerais zinco, ferro, cálcio, magnésio e potássio; e ainda como preventivo contra as doenças do joelho, assim se explicam pessoas que coxeavam e não mancam mais. Também o quiabo traz terapêuticas lembranças, o que finalmente confesso.
Em 1966, no fim da longa safra de quiabo, quando me despedia de familiares para ir estudar na Itália, procurei visitar o meu amado avô Ramos que tinha se mudado de Pilar para Carpina, no caminho das romarias ao Santuário de São Severino dos Ramos , aonde, durante minha infância, peregrinavam meus pais para “pagar promessas alcançadas ou agradecer graças recebidas”. Ao chegar a Carpina, meu avô, o velho Ramos, esperava-me: “Mês passado, seu pai Inácio me avisou que você iria pra longe, então preparei uma lembrança para você”. Levou-me ao quintal, mostrou-me um único e bem cuidado fruto do verde quiabeiro: “Guardei para você…” Ele já morreu e levou consigo sua liderança, seu largo sorriso contando estórias debaixo da árvore, arrodeada por sempre ocupados tamboretes. Mas sua simplicidade ainda me ensina: um pequeno presente cresce e valoriza-se, quando há sinceridade na doação.
Damião Ramos Cavalcanti