Academia Paraibana de Letras

        Sem fila, a humanidade não anda, não sai do lugar e padece de competitivo empurra-empurra; é muita gente para passar, de uma só vez, pelo gargalho da garrafa; mesmo que se inverta: Troque-se a boca pelo fundo da garrafa; não, não precisa quebrar vidro, tampouco fila.  Os índios, na floresta,  caminhavam em fila para um apagar o rastro do outro,  evitando os inimigos descobrirem seu caminho; daí, “fila indiana”.  Pelo nome “indiana” parece ser a Índia criadora desse costume, populosa quase como a China, então carente de filas. Por sua vez, os chineses  não cultivavam o uso da fila. Antes das Olimpíadas de Pequim (2008), treinaram para mostrar ao mundo que chino sabe esperar a sua vez; via-se muita gente entrando num ônibus sem fila; formavam multidão, mas, não, fila. A confusão vem ensinando-lhes tal necessidade.
    
   A França usa com seriedade esse costume, praticando o respeito à fila. Em Paris, ao chegar numa peixaria , não pergunte se tem truta; o peixeiro calado ficaria, e logo seu severo olhar e os em fileira repreenderiam: “Vá pra fila”. Já o Brasil bate recorde de “furadores de fila”, o que provém da mania obsessiva do “brasileiro querer ter vantagem em tudo”, do prazer em passar na frente dos outros, justificando-se: “É rápido, é só isso…” Em várias ocasiões, pratica-se tal má educação; no banco , na padaria , na entrada do campo de futebol, também na Igreja e , sobretudo no trânsito interrompido, quando o “cara de pau” corta pelo acostamento, definindo o “furador de fila” como corrupto potencialmente  pronto a maiores corrupções. Tais desregrados só não cortam a fila daqueles que vão morrer…
         
 Mas, “prá tudo há exceção”, há quem gentilmente ceda seu lugar, porém sem ir para trás da fila, ao lugar do beneficiado… Cito Waldiza, contemporânea de adolescência, que encontrei sozinha no caixa especial do supermercado, e,  gentilmente, depois de um rápido “como vai”, cedeu-me o lugar:”Pode passar”. Recusei: “É sua vez”. Então ela se explicou: “Só uso esse Caixa, quando não há idoso”…

 Damião Ramos Cavalcanti


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