Academia Paraibana de Letras


Estava comprando pão, quando uma menina moça, no competitivo frisson da fila da padaria, cobrou da mulher ao lado: “Mãe, quando é que a senhora vai comprar as coisas pro Natal?” A mulher, de cabelo assanhado, mas, na moda, bem vestida com roupas vendidas em lojas populares, imitando confecções de luxuosas boutiques, respondeu por cima do ombro: “Quando o dinheiro sair”… A filha insistiu: “Quando vai sair?”, ao que ficou sem resposta.

Essa história de “compra-compra”, preparando essa festa, vem acontecendo muito antes de Jesus Cristo nascer; desde as comemorações natalinas, mas pagãs, em homenagem ao “Deus Sol”, com o nome de “Brumália”, inclusive com troca de presentes. Mas, naquele tempo, sem o arrumado “amigo oculto”. Os amigos, todos sabiam… Aqui e agora, vai se sabendo da amizade, aos poucos, até se caracterizar, com suspense, o perfil do sorteado.

No nascimento de Cristo, nada se escondeu, só a criança, da fria espada de Herodes. Há muito tempo, no presépio da Igreja que absorveu tal natal, a partir do século IV, vêem-se os “reis magos”, montando camelos, e, sem surpresa, mostrando os presentes nas mãos que dariam ao recém nascido Messias. Os nomes desses magos sempre foram estrambóticos; difíceis de decorar, inclusive servindo como pergunta de maratona. Ninguém acertava em dizer os três; sabiam-se apenas os três presentes. Também sobre isso, não encontrei relato nos evangelistas, aprendi com a catequista Vicença, em Pilar, que se chamavam Melchior, Baltasar e Gaspar e que não seriam reis , mas simplesmente “sacerdotes zoroástricos” (outra palavra difícil), das longínquas terras da Arábia, que, guiados por uma estrela, presentearam ouro que, segundo o catecismo dos Padres da Igreja, simbolizaria a realeza; o incenso, a divindade; e a mirra, a paixão. Até o apóstolo Mateus (2, 1-12) não pronuncia esses nomes tão complicados, atribuídos aos três magos.

Damião Ramos Cavalcanti

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